Uma ideia que costuma vir das argumentações de muitos ateus é que a fé em Deus é apenas um conforto emocional para os psicologicamente fracos. Fora o fato de isto ser simplesmente uma falácia genética (isto é, dizer que algo é falso simplesmente por se conhecer uma possível origem deste algo), vamos neste texto trabalhar mais profundamente estas e outras questões sobre breves objeções ao ateísmo.
O psicanalista Sigmund Freud costumava dizere que a ideia de Deus era simplesmente uma projeção da figura paterna, objeto de amor e temor ao mesmo tempo. Por outro lado, o também psicanalista Carl Jung, que era admirador e amigo de Freud, tinha uma visão ligeiramente diferente do assunto:
"O conceito de Deus é simplesmente uma função psicológica necessária... quando não é consciente , é inconsciente, porque seu fundamento é arquetípico... Por isso, acho mais sábio reconhecer conscientemente a ideia de Deus; caso contrário, outra coisa ficaria em seu lugar, em geral uma coisa sem importância ou uma asneira qualquer, invenções de consciências 'esclarecidas'." JUNG, Carl. Psicologia do inconsciente. Trad. Maria Luiza Appy. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 63.
Para Jung, a ideia de Deus em nossa mente é um arquétipo projetado no inconsciente e anterior a qualquer outra imagem. Aliás, é a ideia divina de Pai que é projetada em nosso pai terreno. É daí que vem nossa obrigação moral de honrarmos nossos progenitores. Eles trazem uma imagem divina em sua missão paterna. Por outro lado, quando um pai é negligente ou perverso com seus filhos, nós dizemos que ele NÃO DEVERIA SER ASSIM. Tudo isso deve deixar claro de que é de Deus que vem o nosso conceito deontológico de pai.
Reforçando esta ideia, podemos constatar que a ideia de Deus, em sua forma mais básica, existe nas mais variadas culturas e épocas da humanidade. De alguma forma nós já nascemos com a ideia de Deus impregnada em nosso ser. (Hypescience:
Somos programados para acreditar em Deus?) Deus não pode ser uma invenção cultural específica, exatamente porque Ele aparece em povos diferentes. O ateísmo parece ser algo muito mais artificial, algo no qual é preciso esforço para se convencer.
Se o cristianismo parece uma fraqueza ou uma fuga, poderíamos dizer igualmente que o ateísmo deve ser uma espécie de fuga da responsabilidade moral diante de Deus ou mesmo uma atitude de medo do inferno.
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Além de enfraquecer os significados de responsaibilidade e de juízo, o ateísmo debilita até mesmo o conceito de verdade. Sem Deus, a nossa mente é apenas o produto de evolução físico-química. Que garantia temos, então, de que nossa mente é capaz de tirar conclusões válidas ou de encontrar a verdade sobre as coisas, sendo que nosso cérebro é apenas um punhado de cúlulas que não foi planejado, mas é simplesmente umn acidente causado por forças impessoais? Quando o ateu tenta convencer (e se convencer) de que seus argumentos correspondem à verdade, ele está usando um conceito de verdade que só é coerente dentro de uma visão teísta.
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O naturalismo é a doutrina de que todo o Universo pode ser explicado em si mesmo, sem a necessidade de algo transcendente ou sobrenatural. Para o naturalista, o Universo gerou naturalmente a vida, e por fim, a vida consciente. O naturalismo defende um efeito maior em grandeza do que a causa. Analisando friamente, isto parece muito mais com uma espécie de paganismo sofisticado. Veja se isto que o profeta Jeremias falou há quase 3000 anos atrás parece meio familiar:
"Como fica confundido o ladrão quando o apanham, assim se confundem os da casa de Israel; eles, os seus reis, os seus príncipes e os seus sacerdotes, e os seus profetas, QUE DIZEM AO PAU: TU ÉS MEU PAI; E À PEDRA: TU ME GERASTE; porque me viraram as costas, e não o rosto; mas no tempo da sua angústia dirão: LEVANTA-TE, e livra-nos." (Jeremias 2.26-27)
A ciência e tecnologia da qual tanto nos gloriamos e de fato nós é muito útil pode nos dizer um pouco sobre como a vida funciona e até sobre como começou. Entretanto, a ciência nunca poderá dizer algo sobre a razão da vida. Este mistério está escondido num campo muito mais profundo.
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Os negadores da divindade alegam que a existência do mal é uma prova de que não existe um Deus ao mesmo tempo bom e todo-poderoso, que pudesse extinguir o mal. Primeiro, ninguém nunca disse que Deus não pode destruir o mal. De fato, ele vai. No tempo certo. Segundo, o mal é uma possibilidade que decorre logicamente de um bem: a liberdade. É bem possível que Deus use as consequências más de nossas escolhas livres para nos instruir sobre o uso correto da nossa liberdade. Quando todo o propósito de Deus for satisfeito, Ele destruirá o mal. Enquanto ainda houverem pessoas que podem ser libertas do mal através da busca de Deus e da salvação, Deus está adiando a destruição do mal.
Em terceiro lugar, o mal é apenas um problema aparente ao cristianismo, como tenho mostrado. Mas a existência do mal é na verdade uma objeção ao próprio ateísmo. Aliás, é a distinção que existe entre o bem e o mal. Se Deus não existe, não existe bem ou mal. Se se o mal existe, é porque existe o "não-mal" (o bem), e consequentemente, Deus existe. Afinal, se o homem é apenas matéria, de onde surgiu o conceito de bem e mal? Como o "ser" (matéria) pode ter gerado o "dever ser" (consciência moral)? Se o homem não é responsabilizado e submetido a um juízo por seus atos em vida, por que fazer o bem ou o mal?
Não há nenhuma razão honesta para o zelo moral se a única vida que temos é a presente. Vale assim o discurso hedonista citado por Paulo: "comamos e bebamos, que amanhã morreremos." (1 Co 15.32). De fato, Paulo também reconheceu que "se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens". (1 Co 15.19).
A existência de deveres absolutos em nossa consciência é realmente algo digno de meditação. É interessante que até mesmo aqueles que negam os absolutos morais terminam vivendo sob a égide de um preceito inquestionável, a saber, o dever da tolerância ou do respeito mútuo. O absoluto é inescapável no campo moral, e a moral é algo inescapável no ser humano. Na verdade, mesmo aqueles que defendem uma moral relativa acabam impondo seus padrões de forma absoluta - é o que podemos perceber nos manifestos humanistas dos ateus militantes, por exemplo.
De onde pois vem o sentimento de dever? Ele não pode vir da razão, uma vez que seria necessário primeiro explicar porque DEVEMOS agir de acordo com a razão. A natureza não pode ser a causa final do sentimento de dever, já que para o naturalista a mesma é cega e impessoal. Das ciências humanas e políticas, sabemos que o sentimento de dever surge de uma reivindicação de lealdade, lealdade a uma pessoa ou instituição (que geralmente é representada por uma pessoa). Se existem deveres absolutos, isto nos revela a existência de uma Pessoa Absoluta a quem devemos lealdade.
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O filósofo Søren Kierkegaard resumiu a vida humana em três etapas: a estética, a ética e a religiosa. Observamos que o homem só se liberta do desespero estético (resultante da busca de prazer sem propósito) através de algum absoluto ético em torno do qual organize sua vida e afirme sua identidade. A ética aparece como um "imperativo de significação pessoal". Na fase seguinte, a 'etapa religiosa', o homem descobre em Deus o fundamento do seu ser. Na fase ética, alguma "camada" da Criação é impropriamente absolutizada, enquanto na fase religiosa o homem reconcilia-se com o Criador e consigo mesmo, podendo reestruturar seu ser sobre o verdadeiro fundamento.
Jean-Paul Sartre, o filósofo existencialista, ao negar a existência de Deus e de uma ética objetiva, viveu praticamente toda a sua vida no nível estético. Em 1980, quando estava velho, cego e enfraquecido, porém ainda lúcido, pôde dizer:
"Não creio que sou um produto do acaso, uma partícula de poeira no Universo, mas alguém que foi aguardado, antecipado, previsto. Em resumo, um ser que só um Criador poderia pôr aqui. E essa ideia de uma mão criadora se refere a Deus." NATIONAL REVIEW, 11 jun. 1982, p.677.
Friedrich Nietzsche e Michel Foucault também foram filósofos que, negando a existência de valores absolutos, procuraram viver apenas no nível estético. Nietzsche passou os últimos treze anos de sua vida insano, vigiado em seu leito por sua mãe. Foucault se tornou obcecado pela morte, tendo tentado suicídio várias vezes. Por fim se entregou ao LSD e à pedofilia, morrendo com o corpo devastado pela AIDS.
Entretanto, os dois pensadores estavam certos em seu pressentimento de que a "morte de Deus" não representaria o advento do homem, mas sim a intensificação da sua agonia. Nas ciências humanas, a ausência de Deus não foi preenchida pelo homem, mas por sistemas, estruturas, textos sem autor e ações sem sujeito.
Em Deus, o homem encontra a sua plenitude. Mas se Deus morre, o homem também desaparece. Entramos num estágio de "nadificação". Sem Deus, somos como um homem que teve um de seus membros amputado: é como se ainda sentíssemos o 'fantasma' do membro, dando a orientação do espaço em que se movia anteriormente. A ausência de Deus é como uma ferida que não cicatriza, mas que sempre reabre ao tentar fechá-la.
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